Rumo à COP 30 – Não é falta de capital, é falta de instrumento
Este artigo é o quarto de uma série especial publicada ao longo do segundo semestre de 2025, no caminho para a COP 30, e aborda o desafio da estruturação financeira para a inovação climática no Brasil.
Se o Brasil já tem ativos, soluções e um ecossistema em movimento, por que o capital não chega com força à inovação climática? A resposta não está na falta de recursos — mas nos caminhos que ainda não foram abertos para canalizá-los.
O paradoxo é revelador. O capital para financiar a transição climática está crescendo globalmente, inclusive no Brasil. Mas esses recursos seguem presos em soluções já consolidadas ou em projetos de infraestrutura tradicional. Quando olhamos para tecnologias emergentes, modelos disruptivos ou soluções aplicadas a contextos de vulnerabilidade socioambiental, o fluxo desaparece.
O problema não é de apetite — é de arquitetura. Projetos de inovação climática demandam instrumentos que absorvam risco, operem com horizontes longos e combinem diferentes tipos de retorno. Isso significa mecanismos de garantia, fundos de capital paciente (destinados a investimentos de longo prazo), estruturas híbridas e modelos de blended finance. No Brasil, essas estruturas ainda são exceção.
Os números expõem nossa posição ainda à margem da agenda principal. Segundo a Convergence Blended Finance , apenas 6% do volume global de blended finance foram destinados à América Latina em 2022. Enquanto isso, o país desperdiça oportunidades evidentes: temos NDCs (sigla em inglês para Contribuição Nacionalmente Determinada) definidas, planos de transição em construção, mas instrumentos financeiros que não conversam entre si.
Há sinais de mudança. O Fundo Clima aprovou R$ 7,36 bilhões apenas nos primeiros sete meses de 2024 — um salto de 26 vezes em relação a 2022. O programa Eco Invest projeta alavancar até R$ 45 bilhões com recursos públicos estruturados. Esses números comprovam que, quando há estratégia e coordenação, o capital aparece.
A tarefa agora é expandir esse repertório para soluções emergentes, nos territórios que mais precisam. Organizações como Din4mo o, Sitawi Finanças do Bem , Trê Investindo com Causa , VOX Capital, além do fundo fama re.capital, têm operacionalizado mecanismos híbridos que conectam capital filantrópico e comercial a soluções ainda em estágio inicial. Essas experiências ampliam o repertório de estruturas viáveis, contribuindo para a sofisticação do ecossistema financeiro voltado à inovação climática.
O que está em jogo é maior do que novos fundos. Precisamos de novas formas de combinar recursos, compartilhar risco e medir impacto. A Climate Ventures defende que inovação climática é a engrenagem essencial da transição — e que o desenho de instrumentos financeiros é consequência natural de um ecossistema coordenado com interesses alinhados.
A COP 30 pode marcar uma inflexão. O Brasil tem a chance de apresentar, em Belém, uma proposta robusta de modernização de seus instrumentos de financiamento climático. Isso inclui consolidar marcos jurídicos, ampliar mecanismos como blended finance e garantir que fundos públicos operem com agilidade compatível com o desafio.
A transição climática já tem motor e combustível. O que falta é a transmissão certa para chegar aonde precisa.