Rumo à COP 30 – O que a COP precisa entregar para destravar a inovação climática no Brasil
Último artigo de uma série especial publicada ao longo do segundo semestre de 2025, no caminho para a COP 30, com propostas concretas para transformar inovação climática em política de Estado.
O Brasil pode deixar de ser promessa para se tornar potência em inovação climática. A COP 30 é a oportunidade histórica de consolidar esse papel, desde que o país vá além do discurso e entregue estruturas concretas para transformar inovação em política de Estado. Nos últimos artigos, discutimos os principais entraves para que o Brasil lidere a inovação climática: falta de visão comum, desalinhamento entre atores e ausência de instrumentos financeiros adequados. Agora é hora de virar a chave.
Essa não pode ser apenas mais uma conferência de promessas. Precisa ser um ponto de inflexão — especialmente para um país que tem todos os recursos para assumir a liderança na questão ambiental, mas ainda hesita em se posicionar com ambição e clareza.
Como destacou André Corrêa do Lago, embaixador do clima do Brasil e presidente da COP 30, esta precisa ser a "COP da implementação" — um momento em que o país não pode mais apenas discursar, mas sim entregar resultados tangíveis, articulando compromissos com execução. A afirmação não é retórica: é um chamado à ação vindo da própria liderança da conferência. E se essa é a COP da implementação, as soluções precisam estar no centro do palco. Mostrar que elas existem, funcionam e são investíveis é condição para que qualquer plano climático se sustente na prática.
O que está em jogo é simples: ou o Brasil assume o protagonismo ou continuará como espectador em uma das agendas mais relevantes do século. Para mudar essa trajetória, é preciso transformar a COP 30 em um marco institucional para a inovação climática. Como?
Apresentar uma vitrine de Inovação Climática
A COP 30 precisa mostrar o que já está funcionando, reunindo no mesmo espaço soluções concretas do Brasil e do Sul Global, com impacto real e potencial de escala. Trata-se de sair do plano das intenções e apresentar tecnologias, modelos e territórios que estão fazendo a diferença. Mas não apenas isso. O espaço deve também abrigar os mecanismos que viabilizam essas soluções: fundos e instrumentos financeiros, aceleradoras, programas governamentais, filantropia estratégica, instituições financeiras de desenvolvimento. eve funcionar como um hub vivo de articulação — onde quem inova, quem investe e quem apoia podem se encontrar, compartilhar aprendizados e desenhar caminhos conjuntos. O espectro de soluções é amplo: da Mombak, que usa tecnologia para restaurar florestas em escala, à umgrauemeio, que aplica dados climáticos para antecipar riscos. Da Lemon Energia, que democratiza o acesso à energia limpa, à Solinftec, que otimiza recursos no agronegócio com inteligência artificial. São exemplos que atravessam diferentes setores — restauração florestal, clima, energia, agricultura — e mostram como a inovação climática brasileira combina diversidade com potencial real de escala.
A Climate Ventures mapeou quase mil soluções climáticas brasileiras, o maior levantamento do tipo no país. O Showcase de Soluções Climáticas 2025, que será apresentado na COP 30, é fruto direto dessa curadoria: uma seleção criteriosa das 120 startups mais promissoras da nova economia verde nacional. A proposta é simples: mostrar que o Brasil já tem soluções viáveis, escaláveis e investíveis. O futuro da transição já está sendo construído.
Formar uma coalizão multissetorial de ação
Transformações exigem convergência. A COP 30 é o momento ideal para lançar uma coalizão que una grandes empresas, governos, filantropia, academia, empreendedores e comunidades. O objetivo? Compromissos concretos com metas de descarbonização, inclusão social e investimento em inovação, e não apenas declarações de intenção. A experiência do Nature Investment Lab, do Climate Justice Innovation Lab, da plataforma BIP do BNDES e do Fundo Vale mostra que isso é viável.
Essa proposta se alinha ao roadmap Baku a Belém, aprovado na COP 29, que exige dos países em desenvolvimento a articulação de soluções próprias, conectadas a prioridades nacionais e estratégias de longo prazo.
Criar um Comitê Nacional de Inovação Climática
Mais do que uma entrega pontual, a COP 30 pode deixar um legado institucional. A criação de um Comitê Nacional de Inovação Climática — com representantes de governo, setor privado, organizações filantrópicas e sociedade civil — consolidaria o arranjo de governança necessário para que a agenda permaneça viva e coordenada além dos ciclos políticos.
A COP3 0 será julgada não pelo que prometer, mas pelo que conseguir institucionalizar. O Brasil pode sair de Belém como um novo polo global de inovação climática — mas isso exige coragem para estruturar, coordenar e executar.
A Climate Ventures continuará impulsionando esse processo, articulando soluções com capital, conhecimento e políticas públicas. Porque, no fim, a inovação climática não é só uma agenda ambiental — é a base da economia do futuro, que será verde e precisa ser mais justa. É uma estratégia de competitividade nacional e condição fundamental para que o Brasil se torne a potência que tem potencial de ser.
A transição é inevitável. A liderança, uma construção. E a COP 30 é o jogo decisivo — em casa, com torcida, time e campo preparados. O Brasil precisa jogar.