O saber do chão, é a revolução do clima. 

Por Mateus Fernandes- InfoPerifa

Embora as mudanças climáticas sejam uma questão global, as populações mais vulnerabilizadas foram, são e continuarão sendo as mais afetadas pelos eventos extremos, a menos que os governantes tomem medidas para reduzir as desigualdades.

O conceito de “justiça climática” emerge como uma extensão da “justiça ambiental” e da consciência racial e territorial. Promover justiça é promover igualdade, equilíbrio entre riquezas, interesses e oportunidades. Quando pensamos nos eventos climáticos extremos, reforçamos a compreensão de que a população mais afetada pelas mudanças climáticas deve ser priorizada nas ações e políticas de enfrentamento dos impactos. Ninguém vive em áreas de risco ou em condições vulneráveis por escolha, mas sim pela falta de assistência governamental e recursos para adaptar essas áreas.

Quem é mais impactado pela crise climática?

As fortes chuvas, as ondas de calor e outros eventos extremos não são desastres naturais, mas sim sintomas de uma crise criada pela humanidade, principalmente pelo poder econômico e pela falta de ação dos líderes que estão nos espaços de tomada de decisão. E nessa crise, a desigualdade é ainda uma realidade permanente. Visando combater esse cenário, ressalta-se a importância de dados atualizados para que possamos compreender o porquê das consequências e cobrar de maneira efetiva mudanças por cidades adaptadas, justas e igualitárias.

Para Gabriel Lopes, 16, morador de Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo, “hoje o sistema de vestibular pouco aborda sobre justiça climática, mas é necessário termos o conhecimento de dados como o que contém este material” [Cartilha produzida pelo Greenpeace Brasil], e finaliza “é uma base de estudo que poucos têm acesso.” Gabriel acrescenta ainda: “Eu separei o material em três partes para estudar a questão geográfica, a social e a política. Usei um dos dados em um simulado. Acho que tenho feito bom proveito.”

Reforçar o conhecimento sobre o papel da justiça climática na educação e no currículo escolar, bem como para quem vai prestar vestibular ou Enem, é essencial, pois os jovens de hoje são os agentes de mudanças no futuro. A inclusão desse tema no sistema educacional é fundamental para preparar as futuras gerações para enfrentar e mitigar os impactos das mudanças climáticas.

Como os impactos chegam nas escolas públicas?

Temperatura acima dos 30º. O sinal toca e os alunos entram na sala. Algumas delas, com mais de 30 estudantes. Há dois ventiladores ali, que nem sempre funcionam. Fora outros problemas em meio ao calor nas escolas.

Quadras sem cobertura, falta de água nos bairros, banheiros quebrados, bebedouros com água quente. Telhados com material que deixam a sala mais quente e janelas com grades que impedem a ventilação do ar.

Com as ondas de calor cada vez mais constantes – 2025 é considerado o segundo verão mais quente da história – alunos e trabalhadores das escolas públicas têm vivido dificuldades em meio à falta de infraestrutura em várias periferias de São Paulo e em cidades da Grande São Paulo. Levantamento da Agência Mural nos dados do Censo Escolar 2023 mostram que apenas 463 salas das 73 mil existentes são climatizadas (com ar-condicionado), o que equivale a menos de 1%. O número é bem abaixo da média no Brasil, que possui 33%, segundo o Ciepp (Centro de Inovação para a Excelência em Políticas Públicas).

A justiça climática exige que reconheçamos essas desigualdades e trabalhemos para corrigi-las, colocando as pessoas mais impactadas nos espaços de tomada de decisão e de elaboração de políticas públicas. As políticas de mitigação e adaptação precisam ser desenhadas para priorizar aqueles que estão na linha de frente da crise climática. Isso significa mais do que reduzir emissões, significa garantir que as comunidades mais vulnerabilizadas recebam o suporte necessário para enfrentar os desafios ambientais e sejam consideradas parte da mudança.

Sem justiça climática, não há futuro

O InfoPerifa é uma iniciativa socioambiental, criada por mim, Mateus Fernandes! Por lá atuamos na intersecção entre comunicação popular e educação para enfrentar a crise climática a partir de tecnologias sociais das favelas, comunidades e periferias urbanas. O projeto tem como missão combater a desinformação climática, formar uma geração crítica de jovens e crianças, e fomentar soluções sustentáveis baseadas nos saberes e práticas já existentes nos territórios.

A proposta parte da escuta ativa e do convívio direto com comunidades impactadas, reconhecendo que os territórios periféricos não são apenas áreas vulnerabilizadas, mas sim espaços de criação, resistência e inovação climática. No InfoPerifa, o conhecimento ancestral, a oralidade, a criatividade e a urgência do cotidiano se tornam instrumentos políticos e pedagógicos.

Os territórios periféricos são centros de produção de conhecimento, ação e inovação diante da crise climática, combater a desinformação, é também sobre formar jovens e crianças de maneira popular e decolonial, e criando tecnologias sociais a partir dos saberes locais, da vivência, da oralidade e da potência criativa das favelas.

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