Rumo à COP 30 – Porque o Brasil ainda não capturou sua vantagem climática
Este artigo faz parte de uma série especial sobre o papel da inovação climática na transição para uma economia de baixo carbono, publicada ao longo do segundo semestre de 2025, no caminho para a COP 30.
Enquanto você lê este texto, o mundo tenta distribuir trilhões de dólares para resolver a crise climática — mas no ritmo errado. Em 2023, os investimentos globais em ações climáticas ultrapassaram US$ 1,5 trilhão, segundo a Climate Policy Initiative (CPI). Embora seja um marco, esse valor representa apenas cerca de 1% do PIB global — quando o necessário, até 2030, é cinco vezes mais para manter o aquecimento abaixo de 1,5°C.
O Brasil está bem posicionado nesse debate. Poucos países reúnem tantos ativos naturais, diversidade de soluções e capacidade tecnológica. Mas seguimos longe de transformar esse potencial em liderança. Mais que uma matriz energética limpa, temos a chance de liderar mercados globais em torno da bioeconomia, da agricultura regenerativa e de energias renováveis. A plataforma Onda Verde, da Climate Ventures , já identificou mais de mil soluções climáticas e projeta mapear três mil até 2025.
Mesmo liderando os investimentos em clima na América Latina — com aportes triplicados entre 2018 e 2022, segundo o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) — o Brasil ainda precisa mobilizar muito mais. O World Economic Forum estima em R$ 1 trilhão o valor necessário até 2030 para cumprirmos nossas metas.
A inovação climática é o elo que falta. E mesmo assim ela ainda representa uma fração modesta do total investido — especialmente nos países emergentes. Mas não se trata de competir com mitigação ou adaptação: é justamente a inovação que permite ampliar o impacto das duas agendas. Tecnologias em estágio pré-escala, como bioinsumos, sistemas agroflorestais, soluções territoriais com drones, finanças regenerativas ou biocombustíveis derivados da macaúba — como fazem INOCAS e Soleum — são soluções que alavancam eficiência e inclusão. O Brasil, aliás, tem a oportunidade real de assumir protagonismo global no campo dos biocombustíveis avançados, incluindo os combustíveis sustentáveis de aviação (SAF), articulando sua liderança histórica em etanol com novos vetores de inovação e sustentabilidade energética. O problema não é falta de capital: é a ausência de instrumentos para canalizá-lo.
Hoje, o Brasil carece de fundos dedicados, estruturas híbridas e garantias que apoiem inovação em territórios de baixa infraestrutura ou cadeias de valor emergentes. Faltam também plataformas permanentes de articulação entre governo, setor privado, sociedade civil e academia. A Climate Ventures atua justamente nessa fronteira: conectando soluções com capital, inteligência e política pública, por meio de iniciativas como a Onda Verde e o Nature Investment Lab.
Sem inovação, não há transição. Ponto. Soluções atuais não bastam. A pressão crescente por adaptação climática, sobretudo em áreas vulneráveis, exige novas tecnologias, novos modelos e inteligência de financiamento. Investir em inovação é investir em resiliência, produtividade e estabilidade. Segundo o Network for Greening the Financial System (NGFS) - uma rede global de instituições financeiras para acelerar as finanças verdes -, as perdas econômicas podem ultrapassar US$ 2,3 trilhões até 2100 se não houver ação efetiva. No Brasil, o risco climático ainda é pouco precificado, o que limita a ação do capital privado.
A COP 30 pode marcar a transição do discurso à entrega. Ao sediar a conferência e liderar o G20, o Brasil tem a oportunidade de mostrar ao mundo que é capaz de alinhar ambição com execução. A inovação climática não é um elemento acessório — é o mecanismo central para gerar impacto com escala, velocidade e justiça. Temos os ativos e o timing. O que está em jogo agora é transformar essa vantagem em liderança real, com resultados que consolidem o Brasil como referência na nova economia global.