Rumo à COP 30 – O ecossistema existe, mas não se encontra

Este artigo é o terceiro de uma série especial publicada ao longo do segundo semestre de 2025, no caminho para a COP 30, e aborda o desafio da coordenação institucional no campo da inovação climática no Brasil.

Nos dois primeiros artigos desta série, mostramos que o Brasil tem potencial para liderar a inovação climática global, mas que essa inovação segue periférica na agenda nacional. Agora chegamos ao terceiro obstáculo, que é também nossa maior oportunidade: o ecossistema já existe, precisa apenas ser orquestrado.

Imagine uma orquestra sinfônica com músicos de altíssimo nível, cada um tocando uma partitura diferente. É exatamente isso que acontece com a inovação climática brasileira hoje. Centenas de iniciativas, empresas, projetos e políticas públicas em operação — todas com potencial, mas sem coordenação.

A energia está toda lá, esperando ser canalizada. Instituições públicas multiplicam editais para temas similares. Grandes empresas desenvolvem plataformas próprias de mapeamento. Aceleradoras promovem chamadas paralelas, cada uma com critérios específicos. Em uma mesma cadeia produtiva, diferentes frentes trabalham com os mesmos objetivos, mas sem diálogo.

Na Amazônia, por exemplo, existem centenas de soluções inovadoras sendo desenvolvidas simultaneamente — algumas circulam entre diferentes programas de aceleração e fundos de venture capital , mas outras permanecem isoladas esperando oportunidades. É abundância mal distribuída, não escassez.

Uma peça-chave já está sendo construída: o Ministério da Fazenda deve lançar em julho uma taxonomia sustentável nacional que vai criar critérios claros para categorizar tecnologias, avaliar impacto e orientar investimentos. Com essa régua comum, diferentes atores poderão finalmente trabalhar com a mesma linguagem e métricas.

Algumas pontes já começam a se formar. O Cadimpacto, o Cadastro Nacional de Empreendimentos de Impacto do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), mapeia empreendimentos com impacto socioambiental positivo. Iniciativas setoriais ganham força. O que precisamos é transformar essas ilhas em um arquipélago conectado.

A movimentação do setor privado também reflete essa abundância: empresas e investidores criam circuitos próprios de inovação — programas de aceleração, plataformas de chamada — mostrando que o interesse existe. O desafio é alinhar esses esforços às prioridades nacionais para multiplicar o impacto.

O paradoxo é que, quanto mais o ecossistema cresce, mais evidente fica seu potencial de articulação. Já temos massa crítica suficiente para fazer diferença e o próximo passo é trabalhar de forma coordenada, com metas compartilhadas e métricas comuns. Não se trata de criar mais estruturas, mas de conectar as que já existem.

A inovação climática brasileira está potente e pronta. O país tem todas as peças do quebra-cabeça; agora, é hora de montar a figura completa. Na COP 30, podemos mostrar ao mundo como transformar abundância desorganizada em liderança articulada.

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