Inovação climática no Brasil - o sucesso das startups de restauração florestal

Eventos extremos se tornam cada vez mais frequentes e severos, evidenciando a urgência por uma transição justa para uma economia de baixo carbono. Diante da complexidade e escala desse desafio, a inovação climática se apresenta como uma das estratégias mais promissoras. 

Embora ainda pouco difundido no país, o conceito de inovação climática precisa ganhar centralidade no debate sobre o enfrentamento à emergência climática. Isso significa reconhecê-lo como eixo estratégico para políticas públicas, investimentos e planos de negócios que busquem responder à crise de forma estrutural. Acreditamos que é hora de colocar a inovação climática no centro das decisões — e de mostrar, com exemplos concretos, como ela já está transformando realidades.

A inovação climática, como modelo de inovação, vai além do desenvolvimento de novas tecnologias. Envolve modelos de negócio disruptivos, novas formas de financiamento, políticas públicas eficientes e uma integração estratégica entre diferentes setores da sociedade. De energias renováveis a créditos de carbono e soluções baseadas na natureza (SbN), a inovação climática tem potencial para transformar setores inteiros da economia e garantir um desenvolvimento global mais alinhado às necessidades sociais e aos limites ecológicos do planeta.

Para uma transição em grande escala na economia, a colaboração entre as partes interessadas e a escalabilidade são indispensáveis para maximizar o impacto, garantindo soluções acessíveis, que beneficiem um número crescente de pessoas e territórios. É essencial um ambiente favorável à inovação, para garantir que as soluções saiam do papel e cheguem ao mercado e, principalmente, às pessoas. 

O potencial das startups climáticas no Brasil

Soluções como rastreabilidade de cadeias produtivas, tecnologias de monitoramento e bioeconomia têm ganhado protagonismo na agenda de inovação climática. Esses modelos não apenas protegem os biomas, como também geram empregos, promovem justiça climática e fortalecem a competitividade do Brasil diante dos desafios socioeconômicos globais. Essas soluções fazem parte de uma transformação estrutural que conecta inovação, regeneração e desenvolvimento sustentável, dialogando diretamente com os projetos conduzidos pela Climate Ventures , e com nossa missão institucional de think-and-do tank para uma nova economia.

Entre os setores de maior destaque nessa nova economia, o de Florestas e Uso do Solo vem se consolidando como um dos pilares centrais da transição climática no Brasil. No mapeamento realizado pela Climate Ventures em 2024, 43% das soluções verdes identificadas atuam nesse setor — o número mais expressivo entre os oito setores definidos pela Taxonomia Onda Verde. Esse dado reforça o enorme potencial do Brasil em liderar iniciativas de restauração e conservação ambiental por meio de soluções inovadoras. A ampliação das demandas regulatórias e os avanços no mercado de carbono também têm favorecido o surgimento de novos modelos de negócio focados na regeneração dos ecossistemas e no uso sustentável da terra.

É nesse contexto que empresas como Belterra Agroflorestas, Biofílica, Biomas , MOMBAK e re.green se destacam, representando uma geração de startups climáticas com modelos de negócio robustos, impacto ambiental mensurável e capacidade de escalar soluções regenerativas — conectando ciência, tecnologia, conservação e desenvolvimento socioeconômico.

O recorte dessas cinco empresas revela a diversidade e o amadurecimento das soluções brasileiras no campo da inovação climática. Atuando em áreas como reflorestamento, agroflorestas regenerativas e conservação florestal, cada uma contribui para transformar, de maneira estratégica, o desenvolvimento sustentável no país — com impacto ambiental, viabilidade econômica e potencial de escala.

A re.green é a mais nova dentre as cinco, e tem se destacado como um exemplo robusto de integração entre ciência, tecnologia e operação em campo. Com atuação em toda a cadeia de restauração — da produção de mudas à comercialização de créditos de carbono —, aposta em eficiência e controle para escalar soluções com alto padrão técnico e ambiental. A incorporação do viveiro Bioflora, um dos maiores centros de produção de mudas nativas do Brasil, fortalece ainda mais sua base científica e operacional.

Já a Belterra se destaca por ter acreditado e apostado, de forma pioneira, na regeneração produtiva em escala, com uso de sistemas agroflorestais. Conectando agricultores a assistência técnica, financiamento, logística e mercados compradores, promove impacto socioambiental positivo ao mesmo tempo em que viabiliza modelos agroecológicos em larga escala. Seu modelo inovador tem atraído o apoio de investidores estratégicos como o Fundo Vale e a Good Energies Foundation.

A Mombak é uma das gigantes entre as startups de restauração. Opera com um modelo verticalizado de reflorestamento, voltado à geração de créditos de remoção de carbono de alta integridade. Sua atuação na Amazônia combina ciência, tecnologia e impacto social, contribuindo para a qualidade e permanência das florestas restauradas e para o desenvolvimento das comunidades locais.

A Biofílica, pioneira no mercado voluntário de carbono no Brasil, integra a unidade Decarbon da Ambipar Environment e oferece soluções completas para a descarbonização corporativa. Seus projetos de conservação (REDD+) e reflorestamento protegem milhões de hectares de floresta e reforçam seu papel como referência no setor.

Por fim, a Biomas surge com uma estrutura inédita: fruto da articulação entre seis grandes empresas, conta com suporte técnico e financeiro robusto para escalar a restauração ecológica. Com foco na geração de créditos de carbono e benefícios socioambientais duradouros, aposta na força do setor privado para viabilizar soluções regenerativas em larga escala.

Esses modelos distintos mostram como o Brasil está avançando na criação de negócios climáticos sólidos, capazes de responder aos desafios ambientais e socioeconômicos com inovação e ambição. Juntas, demonstram que é possível transformar desafios ambientais em oportunidades concretas de desenvolvimento sustentável. 

Milena Martins, Diretora de Relações Institucionais e Parcerias Climate Ventures, e também parte do Secretariado do Nature Investment Lab (NIL), reforça a importância da articulação e colaboração entre atores, para evoluirmos com a inovação climática:

“Aprendemos com a Natureza que complexidade se resolve com colaboração. E, diante da crise climática, não é diferente — é menos sobre competição, e mais sobre construir juntos. A articulação multissetorial aproxima regulação, finanças e projetos, além de fomentar discussões sobre caminhos inexplorados e impulsionar soluções. As startups de restauração florestal no Brasil, agentes cruciais, apontam para uma nova economia possível de baixo carbono. Nosso compromisso, tanto na Climate Ventures, quanto no NIL, é seguir catalisando modelos viáveis, compartilhando aprendizados, democratizando conhecimento e o acesso a esse futuro regenerativo”.

Impacto em números: escala da Restauração Climática no Brasil

Somando os esforços das cinco empresas — re.green, Belterra, Biofílica, Biomas e Mombak — o impacto já alcançado é expressivo e crescente. Juntas, elas já restauraram ou têm contratos para restaurar mais de 80 mil hectares de áreas degradadas, com projeções que apontam para milhões de hectares nos próximos anos. 

A re.green, por exemplo, tem acordo com a Microsoft para restaurar 33 mil hectares na Amazônia e na Mata Atlântica, e já plantou mais de 4,4 milhões de mudas de 80 espécies nativas. A Mombak, por sua vez, atua em 20 mil hectares no Pará e já plantou 3,4 milhões de árvores. Em abril de 2025, tornou-se a primeira empresa a receber recursos do Novo Fundo Clima para restauração florestal na Amazônia, com um aporte de R$ 100 milhões, além de já ter firmado contratos relevantes com empresas como Microsoft, Google e McLaren — incluindo um dos maiores acordos baseados na natureza do mundo, de 1,5 milhão de toneladas de carbono a serem removidas até 2032.

A Biofílica, hoje parte da Ambipar Decarbon, conserva mais de 2,5 milhões de hectares de floresta na Amazônia e gera aproximadamente 5 milhões de toneladas de créditos de carbono por ano, combinando reflorestamento, manejo agropecuário sustentável e estratégias de mitigação de gases de efeito estufa. Em 2021, já possuía a maior área do mundo em processo de certificação de créditos de carbono florestal, com 1,5 milhão de hectares sob preservação. A Belterra, por sua vez, já implantou 2 mil hectares de agroflorestas em pequenas e médias propriedades nos biomas da Amazônia e da Mata Atlântica, auxiliando na preservação de outros 20 mil hectares, e se prepara para escalar a implantação de mais 40 mil hectares, com três viveiros em construção. A empresa já captou mais de R$ 300 milhões para projetos de restauração produtiva em sistemas agroflorestais. A Biomas, criada pela união estratégica de seis grandes corporações, já nasceu com um aporte inicial de R$ 120 milhões, garantindo robustez financeira e técnica para estruturar modelos escaláveis de regeneração ecológica. 

Somando os investimentos e recursos captados, essas empresas já mobilizaram mais de R$ 1,5 bilhão, vindos de fontes como BNDES, Banco Mundial, DFC, fundos de impacto e investidores corporativos. Esses números mostram não apenas a viabilidade econômica da restauração ambiental em larga escala, mas também o potencial do Brasil em liderar uma nova economia baseada na regeneração, na biodiversidade e no carbono de alta integridade. Com inovação, capital estratégico e foco em impacto, essas startups estão moldando o futuro da economia verde no país.

Miguel Moraes, diretor de projetos da re.green, reafirma que boa parte dos desafios que enfrentamos hoje, precisam de inovação para serem contornados ou superados, destacando a importância da inovação nos âmbito dos investimentos e da tecnologia.

“A agenda climática hoje depende de um grau de inovação extremamente alto. Precisamos de inovação em todas as frentes do nosso trabalho. Inovação na forma de pensar e entender os processos naturais, inovação tecnológica, inovação em finanças”. - Miguel Moraes, diretor de projetos da re.green.

O crescimento de negócios como esses mostra que a regeneração ambiental no Brasil deixou de ser apenas uma pauta ambiental para se tornar uma oportunidade concreta de desenvolvimento econômico e social. Apesar de suas diferentes estratégias e modelos de atuação, essas empresas compartilham um propósito comum: restaurar ecossistemas, capturar carbono e gerar valor por meio da conservação e do uso sustentável da terra. E elas não estão sozinhas — outras iniciativas igualmente relevantes vêm ganhando força, reforçando o papel estratégico do Brasil na agenda climática global.

Na Climate Ventures , acreditamos que a inovação climática deve ocupar o centro das estratégias de desenvolvimento do país. Ao impulsionar negócios que atuam nesse novo modelo, conectamos impacto ambiental, soluções escaláveis e valor econômico. Esses exemplos demonstram que o Brasil pode ser protagonista em uma nova economia verde — mais inclusiva, resiliente e alinhada aos desafios do nosso tempo.

Nosso papel é seguir criando pontes entre inovação, capital e políticas públicas. A regeneração é só o começo — e estamos apenas na superfície do potencial transformador que a inovação climática pode gerar para o país e para o planeta.

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